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Cerca de 60 estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Duque de Caxias, da Diretoria Regional de Educação (DRE) Ipiranga, participaram pela primeira vez de uma aula pública pela região central da cidade de São Paulo. A iniciativa, realizada no período noturno, integra meu trabalho pedagógico como professor de Geografia na unidade escolar.
Estes alunos têm idades entre 15 a 65 anos de idade. Boa parte deles não são brasileiros: são imigrantes vindos, principalmente, dos continentes africano e asiático. Outros são de países da América do Sul e América Central. Já os brasileiros representam cidades da região Nordeste e Norte do país. Ao todo, a escola possui estudantes de 20 nacionalidades diferentes.
Os alunos foram caminhando da escola até a Praça da Sé. O trajeto dura cerca de 15 minutos. Lá, acompanhado dos docentes Guilherme Expedito e Camila De Oliveira Mori, falei sobre os processos de urbanização e sobre o local ser o marco zero da cidade de São Paulo.
A importância de valorizar o espaço público vem de encontro com um trabalho que desenvolvo desde 2016, com minhas aulas públicas pela capital paulista, ocupando os espaços e dando voz à essa população economicamente e socialmente vulnerável. Muitos vivem em ocupações, cortiços, pensões ou kitnets, e alguns destes locais chegam a ser insalubres. Conscientizá-los é oferecer o direito à cidadania.
Na sequência da aula, todos foram assistir à peça “Muro de Arrimo”, no Centro Cultural do Banco do Brasil. Dirigida por Alexandre Borges, a peça narra a história de um trabalhador da construção civil durante a Copa do Mundo de 2014, especialmente no dia do jogo fatídico entre Brasil x Alemanha, em que a seleção brasileira foi goleada por 7×1. Enquanto trabalha construindo um grande muro, o pedreiro escuta o jogo em seu rádio de pilha. O personagem encenado pelo ator Fioravante Almeida contrasta momentos de euforia e meditação, já que apostou metade do seu salário na vitória do Brasil.
O momento foi de emoção, pois boa parte dos estudantes que participaram da aula pública se identificou com a história. Muitos desses alunos nunca haviam tido a possibilidade de assistir a uma peça teatral. Além disso, vários deles são profissionais da construção civil, principalmente os estudantes estrangeiro.
A partir destas aulas públicas e das visitas aos espaços culturais, verificamos como o sentimento de pertencimento dos alunos aumentava, pois eles agradeciam e nos pediam por mais atividades neste formato. A relação dos alunos brasileiros com os alunos estrangeiros tornou-se mais amável e notei que, nas atividades com cartografia, os brasileiros passaram a ajudar os estrangeiros a confeccionarem os mapas. Isso também incentivou outros professores a pensarem em aulas diferenciadas, com visitas aos locais que contenham histórias relacionadas às suas disciplinas
Outra importância fundamental de se promover aulas diferenciadas ao EJA é tentar sair da “redoma de vidro” que pode existir neste modelo de ensino, articulando atividades feitas com outros estágios de ensino e inovando. Afinal, quem imaginaria que seria possível promover uma aula em plena Praça da Sé, durante a noite? O local é reconhecido pelos casos de violência urbana, pela falta de moradia e de alimentação. Entramos nesse espaço, desafiamos todos os cenários e removemos as “barreiras” criadas pela desigualdade social.
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